sábado, 16 de dezembro de 2006

NATAL...


Mais uma vez cá estamos nós nesta época tão controversa, ambígua, e que gera sempre tantos sentimentos, ainda que não se goste dela.
Ainda que não se goste do Natal, somos quase que, ou totalmente obrigados a vivê-lo, e não a vivê-lo de qualquer maneira, temos de estar felizes, temos de estar ansiosos para nos reencontrarmos com a nossa família, temos de ter a casa decorada...pinheiro e presépio não podem faltar!Temos que andar na cidade mesmo que esteja a nevar a fazer compras, temos e temos e mais temos...
É por isso que detesto tanto o Natal, porque não gosto de ter de...Parece que somos obrigados a estar felizes... E se eu não quiser estar feliz nesse dia, nem esboçar um simples sorriso me apetecer? E se eu não sentir a menor necessidade de me reunir com a minha família? E se eu não tiver a menor paciência para fazer o lindo pinheirinho? E se eu não quiser rapar um frio desgraçado para comprar o que não me apetece comprar naquele momento?
Esta quadra provoca em mim um desconforto desconcertante com o qual ainda não sei lidar, talvez nunca venha a saber...
Prende-me a mente, prende-me o corpo e deixa tão somente o choro encharcar a almofada, a qual não me apetece largar todo o dia.
Prende-me os sentimentos e faz-me pensar que estou no mundo errado,à hora errada...Um desenquadramento impossível de gerir com tanta euforia vinda não sei bem de onde, talvez de pessoas que durante todo o ano se lamentam da vida que levam, mas que por algum motivo, talvez para manter as aparências, talvez pelas prendas, talvez na esperança ingénua que é desta que tudo vai mudar, decidem fazer tréguas com tudo e com todos...e ao longo do dia vão desejando um Bom Natal e um Feliz Ano Novo!Que comovente...Andamos todos tão preocupados com a felicidade de um dos outros, não é?Tão bonzinhos que nós somos a encher a barriga de bacalhau e de outras iguarias irreais, das quais nos ressentimos sempre e juramos que nunca mais, e depois...e depois vem quem sabe a pessoa mais gorda da família (única altura do ano em que tem protagonismo) distribuir presentes e envelopes, muitos envelopes cheios de amor e carinho...
E assim adormeçemos a fazer contas à vidinha e a planear onde vamos gastar aquele rico dinheirinho que nem sabemos muito bem de quem veio o mais rápido possível, não vá depois ser preciso para coisas realmente importantes e ficamos nós sem os nossos casaquinhos de pele, os nossos mil adereços, autênticas armas de arremesso para podermos entrar neste jogo ridiculo que é a vida.
Acho melhor nem comentar o Ano Novo...como diria Ricardo Araújo in Gato Fedorento, "esse é outro!!"