quinta-feira, 24 de agosto de 2006

SIMPLESMENTE GOSTO!


Gosto de tomar o pequeno almoço bem cedo e voltar a dormir até bem tarde.
Gosto de sentir a água do chuveiro a escaldar.
Gosto de caminhar descalça pela casa.
Gosto de tomar café numa esplanada.
Gosto de adormecer com música.
Gosto de comer gelado com o aquecedor ligado.
Gosto de ver filmes sózinha.
Gosto de olhar os outros.
Gosto de falar com estranhos.
Gosto de subir a um palco e criar expectativa.
Gosto de dançar em frente ao espelho.
Gosto de cantar por cima das músicas.
Gosto de conduzir.
Gosto de ter um destino.
Gosto de me preparar e ficar bonita.
Gosto de bananas.
Gosto de pessoas sensíveis.
Gosto de pessoas complexas e complicadas.
Gosto de nadar no mar.
Gosto de vestir os outros.
Gosto de não ter nada para fazer.
Gosto de nada e de tudo...
Simplesmente gosto!

PALÁCIO


Sou uma princesa, não ligo ao facto de o ser, nem sei o que é ser-se princesa, talvez porque nunca deixei de o ser, mas esse pensamento não me ocorre, não se entranha, porque só tenho olhos para uma única coisa.
Não gosto dos meus pais, não os conheço...ou prefiro não conhecer, talvez o elemento chave para se ser uma princesa de verdade, ser carente como as outras...humilde porque necessita do que ninguém alguma vez sonhará que ela pudesse um dia necessitar...incompreendida...
É Outono, faz frio lá fora, não mais do que no palácio...grande e gélido, mas bonito, preeenchido de armaduras, veludos, corredores labirinticos, falsas portas, mil esconderijos, mil artimanhas, velas...muitas
velas...espalhadas pelas paredes forradas de papel, como o meu quarto.
Estou sentada na minha cama, a balouçar os pés, é alta e dura, com muitas almofadas e poucos lençóis.
Olho pela janela embaciada, estão árvores, grandes, fortes, com tons quentes, tons suaves...que abanam e abanam deixando cair as suas folhas amarelas...como quem estivesse a dizer um suave adeus de reconforto.
Não se ouve nada, apenas o vento, adoro o vento, a entrar pela janela...os cavalos relincham...talvez se aproxime uma tempestade.
Sei que todos os compartimentos estão ocupados, e isso basta-me.
Amanhã irei tocar violino para o meu amor, e iremos dançar apaixonadamente, talvez casar...com o meu vestido de renda beje brilhante...talvez naquela pequena capela, naquele pequeno monte...

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

PORQUÊ...

As palavras esgotam-se...as forças esgostam-se...o entusiasmo, esse e a alegria já lá vão, ficaram lá, algures perdidos na imensidão do nada, daquele que temos a certeza que existe.
Às vezes tudo parece tão negro, a cor esvai-se e derrama sobre as poucas esperanças de pertencer a um mundo colorido...mas os outros tratam-nos sempre de maneira igual, talvez porque insistimos em mostrar aquilo que não é, ou talvez fazer uma demonstração daquilo que já fomos...enfim...as palavras esgotam-se, ou melhor, palavras para quê, tornaram-se fracas, impotentes, adulteradas mal se ouvem, entendidas de mil formas diferentes e nunca a certa.

Porque tento eu compor o que não tem arranjo possível, e se o tem eu não possuo de maneira alguma as ferramentas certas?

Porque insisto eu em tentar resolver os problemas que não são meus?

Porque teimo eu em ser justa, recta, firme, aguentar com tudo e todos independentemente de mim, do que eu possa estar a sentir, do quanto eu possa estar a sofrer?

Porque nunca rebento?

Porque não me dou ao luxo de cometer uma loucura sem antes pensar nos outros?

Porque tento fingir que está tudo bem?

Porque é que nunca consigo ser sincera comigo mesma?

Porque é que nunca me permito falhar? Ou que já falhei?

Como consigo eu falar japonês sem sequer saber japonês?

Porque é que os meus ouvidos ouvem todas as linguas?

Porque é que sou o pilar? O porto seguro?

Porque é que tenho de transmitir segurança, confiança, se não a sinto?

Porque é que tenho de dar conselhos?

Porque é que todos acham que sou uma pessoa forte e determinada?

Porque é que estou sempre onde não quero estar? Geralmente a falar do que não quero falar?

Porque haverei eu de ser a eterna diplomata?

Porque é que tenho medo de perder até o que não gosto?

Só me resta chegar a uma conclusão...
Óbvia não?

A de que o neurologista não estava bom da cabeça quando chegou à brilhante conclusão de que tenho o cérebro mais desenvolvido do que a maioria das pessoas.

Só posso ser burra, e nada mais digo...
Aliás até digo, se uma determinada pessoa lesse este texto, acrescentava:"Não sabes fazer pontuação!!" e "Deixa de ter pena de ti mesma".

sábado, 12 de agosto de 2006

MAFALDA VEIGA


Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos e o mundo nos leve para longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
tudo se desfaça num gesto só
Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar