segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

DEFEITOS E FEITIOS


O ser humano não deixa de me surpreender. Quando penso que nada de novo pode acontecer, eis que me deparo em algo mais para reflectir. Talvez me centre sempre e inevitavelmente nos aspectos profundamente negativos intrinsecos a nós mesmos.
Mas sinceramente sinto-me numa estrada sem saída, e é com pena que afirmo que a maldade tem vindo a superar a bondade que eu acredito que todos temos dentro de nós, por vezes escondida, disfarçada, ou até à espera dos piores momentos para se revelar.
Se não fosse uma pessoa tão recta e firme nos meus principios e valores atrevia-me a afirmar que praticar o mal compensa. Felizmente para atenuar esta linha que por vezes só apetece mesmo transgredir acredito piamente que a justiça será feita, ainda que não no momento certo, vem sempre mais tarde e assume contornos diferentes, actua noutras áreas que não as que própriamente nós "pecamos", mas de qualquer das formas não deixa de ser gratificante e quanto a mim, serenamente esperar por ela, vê-la chegar...e poder estender a mão a quem literalmente nos tirou o tapete dos pés. É um acto tão nobre, que transpira e emana tanta superioridade que a justiça acaba de ser feita naquele momento.
Minutos, às vezes não passam de minutos, e não demora nada a voltar à normalidade, mas aquele momento aconteceu e disso não esquecemos jamais.
Entre tantos defeitos que se podem apontar ao ser humano, aquele que mais me toca e magoa é a ganância, e com este tantos outros vêm ao seu colo...As pessoas não sabem viver sem dinheiro, não é possivel, tenho consciência desse facto. Mas conseguem viver sem amigos, sem a cordealidade de uma amizade.
Essas pessoas que se julgam tão autónomas e independentes pelo peso consolador do seu bolso, não podem comprar nada que um dia realmente necessitem. É um vicio, e como todos os vicios, não passam de momentos felizes que depressa se transformam no pior dos pesadelos das nossas vidas. Do qual tentamos sair e não conseguimos, a quem vamos pedir ajuda? Aos que trocámos por uns momentos bem passados?
Acaba mesmo por acontecer no limite, resta saber se esses ainda lá estarão...
Espero que sim...Não sou vingativa.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

ARTE E ARTISTAS

Por mais que existam conceitos predefinidos para tudo e mais alguma coisa, para mim o conceito de Arte é tão dúbio quanto abrangente, não suportando o facto da maioria dos comuns mortais comparar a Arte, e até a própria vida, a uma equação matemática. Porque para mim dois mais dois podem ser cinco...
É tão ou mais artista o criador como aquele que recebe a Arte, a abraça e a compreende. E quando digo compreender, falo de uma compreensão própria, não sem nexo, mas porque há coisas que pura e simplesmente nunca vamos conseguir explicar por completo, uma compreensão individual....até mesmo única, mas a nossa, aquela que faz sentido para nós, e aquela que se acumula no nosso interior e nos faz saltar para andares de cima.
Porque a Arte faz-nos crescer, a mim faz-me viver.
Não querendo cair em anarquia, quem é quem para criticar positivamente ou negativamente alguma forma de Arte? As opiniões continuam a valer o que valem, não é por virem de alguém que um dia outro alguém considerou como alguém que alguma coisa vai mudar, ou pelo menos para mim nada muda.
Tudo isto tem também muito a ver com aquilo que sabemos ser. Até que ponto valemos o que pensamos valer. Em muitos trabalhos meus, o meu parecer basta-me, realiza-me e completa-me. Em muitos outros sei que podia ter dado muito mais de mim, e talvez o resultado tivesse sido um dia muito melhor, mas não dei, dei o que me apeteceu dar, e só por si esse facto já quer dizer alguma coisa, chega a distinguir os bons dos muitos bons.
Mas há quem viva bem com o mediano, e ainda assim se ache muito bom, e talvez o seja mesmo, ou não.
Parece-me que o nosso espirito se reflecte sempre no que fazemos, nas mais pequenas coisas é transparente o brilho do nosso olhar, do suor e tempo perdidos em algo que já nos fez sorrir, que agora está na gaveta pronto para ser recordado e será o mote para um novo algo.
O verdadeiro artista é aquele que sabe que o é, mesmo sem qualquer reconhecimento, é aquele que é humilde para aprender com aqueles que por algum bom motivo respeita, que detesta ser contrariado ou criticado por quem não lhe interessa, mesmo que esse alguém seja considerado por muitos alguém.
Um bom artista é sempre alguém individualista que sabe disfarçar a falta de paciência para trabalhar em grupo. É aquele que consegue levar a sua avante, sem ninguém o perceber. É levar os outros a gostar do que nós mesmos gostamos.
É um lider por natureza, é um manipulador. Poderia ser um ditador. Se não fosse capaz de ser tudo isto e ao mesmo tempo ter a sensibilidade para sorrir ao olhar um quadro, dançar desenfreadamente uma música, chorar numa peça de teatro...O artista é um ditador anarquista. Vive à margem. Por vezes mesmo alheado do que se vai passando à volta. Sempre embrenhado nos seus medos, anseios, pensamentos e sentimentos.
É alguém que por já se ter encontrado não consegue viver sozinho com ele mesmo e extravasa, sente necessidade de mostrar, de expressar o seu amor para além dos horizontes que comumente delineamos.