sábado, 23 de fevereiro de 2008

"A INVISIBILIDADE DAS PEQUENAS PERCEPÇÕES"


Há determinados sítios onde me sinto verdadeiramente em casa, onde sinto a minha família mesmo que não se troque uma palavra, mesmo que esteja ali apenas por estar, mesmo que esteja sentada na plateia e não no palco, que eu tanto gosto de pisar, e já faz tempo que não o sinto, fico feliz. Falo de Teatro.
Ontem à noite não foram as vozes pujantes e as entradas e saídas de palco que me levaram a aplaudir, mas sim um conjunto de corpos que se colovam e descolovam em mil sentidos, sem nexo, sem história, sem rumo.
Acho que o verdadeiro amor não se explica. E como tal, o que senti ontem foi amor. Ama-se porque sim, nunca se encontram muitas justificações para se amar e geralmente as que se arranjam não são as verdadeiras, podem ser verdadeiras, mas não foram essas certamente que um dia nos levaram a olhar nos olhos de alguém e confessar o nosso amor.
Aqueles corpos entrelaçavam-se no chão, aparentemente sem grande ciência, aparentemente sem ensaio, aparentemente sem qualquer pretensão a algo de profissional...mas tudo isto não passa de uma grande aparência. A mão pousou o peso do seu tronco nas costas largas do outro que estava supenso nas pernas de quem com elas levantadas abraçava com força o corpo do primeiro. Passos ao acaso mas tal como no amor, com um propósito bem definido, à partida traçado. Não importa se caio ali, se não dou o salto no momento em que a luz se acende, se a mão desliza para o lado errado...como na vida, não importa os passos que damos, as vezes que caímos...importa sim onde queremos chegar, que à partida e para regra geral das pessoas não faz sentido.
Para regozijo de muitos e indiferença de tantos outros o fim vê-se sempre no final. E aí veremos se somos dignos de aplausos como ontem...ou não.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

... DANÇAR ;)


Há poucas coisas de que gosto de fazer, não sei se diga feliz ou infelizmente, talvez nenhuma das duas, talvez esse extremismo, caracteristica minha, não caiba aqui. Porque nada é totalmente bom, assim como nada é totalmente mau, embora seja por vezes complicado e muito, ver algo bonito no feio, mas...há quem vá conseguindo...isto tudo apenas e tão somente para dizer que adoro dançar e se pudesse fazer tudo na minha vida a dançar, assim seria. Falava a dançar, caminhava pelas ruas a dançar, chorava a dançar...as lágrimas podem ter um ritmo interessante...esperava nas urgências (bate na madeira) a dançar, discutia a dançar, tudo a dançar!!! O que seria do mundo sem a possibilidade de mexer a anca? Fazer Happy Feet e Crazy Legs? De dar voltas no próprio corpo e deixar que o peso penda para onde lhe apetecer fazendo mexer um ou dois musculos, de cantar a letra da música mesmo que não a saibamos e provavelmente nunca vamos saber, ninguém dá conta...Por falar nisso, não sei porque as pessoas gritam desesperadamente as letras das músicas...ninguém as ouve!! É isso ou falar aos berros nos ouvidos...bem mas é preferivel àquela tendência absolutamente desnecessária e nojenta de colarem os lábios nos ouvidos da outra pessoa. E já que estou a falar em discotecas, que por sinal não aprecio muito, já apreciei, há uma idade para tudo...questiono-me qual é o idiota que pensa que diversão é:
- beber até cair para o lado é diversão;
- abanar o copo e levantar a mão com o cigarro é dançar;
- dançar aquela música despersonalizada de qualquer profundidade;
- vomitar é Cool e muito mais Cool é contar as peripécias porque passaram no dia a seguir. Entenda-se por peripécias acidentes, adormecer no relvado da casa, partir o pote mais caro da casa, ou no limite entrar em coma, acho o coma fenomenal;
- eleger a discoteca como o local ideal para se fazer amigos ou algo mais. Num antro daqueles todos são amigos de todos, é quase como que uma seita. Todos são Cool (e desculpem a repetição da palavra, mas acho que concretiza mesmo o que quero expressar por palavras, num outro caso faria uma dança tribal);
- um bom local para desabafar confesso, primeiro porque a outra pessoa não ouve metade dos lamentos e mesmo que ouça no dia seguinte já não se lembra, portanto o problema do segredo ser espalhado fica à partida sanado;
- um bom local para conhecer alguém? Helloooooo! Estamos com os cinco sentidos alterados, acham mesmo que quando voltarem ao normal se direccionam na mesma direcção? Tenho as minhas dúvidas...
Ah também acho piada à pergunta: "Vais para a noite?", normalmente estou nela, mas de facto só corrobora com a minha teoria, ir para a discoteca é mesmo entrar noutra dimensão.
Que fique claro que não tenho nada contra discotecas, nem contra quem gosta mesmo de ir para as ditas cujas, eu também gosto, apesar de serem necessários mil requisitos, sou esquisitinha, e convém salvaguardar que não estou zangada com a vida, nem tou pouco com o mundo...e já agora que não tenho oitenta anos...mas...há coisas bem melhores para se fazer, e de olhos bem abertos e com todos os sentidos apurados...por exemplo DANÇAR!;)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

QUANDO


Quando nos damos conta que temos cabeça para pensar, damo-nos igualmente conta que a preferiamos não ter, precisamente para não termos que pensar. Irónicamente quando a necessidade de pensar surge a confusão instala-se e quando instalada as dúvidas surgem umas a seguir às outras, sempre sem resposta ou com respostas constantemente adiadas.
Quando temos que pensar, é porque os problemas surgem nas nossas vidas, regra geral sem avisar, apesar de muitos já serem esperados, apenas mais uma vez adiados, evitados, apenas para não terem que ser pensados.
Quando pensamos sofremos, sofremos porque ouvimos de nós mesmos aquilo que queremos e não ouvir, chegamos a constatações óbvias mas as quais não queremos crer, e por isso vamo-nos enganando à custa de algum optimismo alheio...mas no fundo, bem lá no fundo nós sabemos que temos sempre razão. Acredito que de nós, só nós sabemos e mais ninguém. Podemos desfazer-nos em mil explicações, associações e comparações...podemos ser transparentes, mas a transparência é tão falsa quanto os sorrisos que vamos soltando ao longo do dia, assim como a força que vem de não sei onde, mas vem e contagia, e desgasta-nos, desgata-nos ao ponto de chegarmos a casa e necessitarmos de uma injecção do que demos, é uma ressaca emocional que raramente alguém consegue colmatar.
Porque não podemos simplesmente não pensar? Porque não podemos simplesmente pôr para trás tudo e todos sem quaisquer remorsos e piedade? Porque não viver como se mais ninguém existisse?
Uma visão fria da vida?Sim!Porque não?Assim nunca esperamos nada em troca, também nunca demos...É justo.