sábado, 16 de dezembro de 2006

NATAL...


Mais uma vez cá estamos nós nesta época tão controversa, ambígua, e que gera sempre tantos sentimentos, ainda que não se goste dela.
Ainda que não se goste do Natal, somos quase que, ou totalmente obrigados a vivê-lo, e não a vivê-lo de qualquer maneira, temos de estar felizes, temos de estar ansiosos para nos reencontrarmos com a nossa família, temos de ter a casa decorada...pinheiro e presépio não podem faltar!Temos que andar na cidade mesmo que esteja a nevar a fazer compras, temos e temos e mais temos...
É por isso que detesto tanto o Natal, porque não gosto de ter de...Parece que somos obrigados a estar felizes... E se eu não quiser estar feliz nesse dia, nem esboçar um simples sorriso me apetecer? E se eu não sentir a menor necessidade de me reunir com a minha família? E se eu não tiver a menor paciência para fazer o lindo pinheirinho? E se eu não quiser rapar um frio desgraçado para comprar o que não me apetece comprar naquele momento?
Esta quadra provoca em mim um desconforto desconcertante com o qual ainda não sei lidar, talvez nunca venha a saber...
Prende-me a mente, prende-me o corpo e deixa tão somente o choro encharcar a almofada, a qual não me apetece largar todo o dia.
Prende-me os sentimentos e faz-me pensar que estou no mundo errado,à hora errada...Um desenquadramento impossível de gerir com tanta euforia vinda não sei bem de onde, talvez de pessoas que durante todo o ano se lamentam da vida que levam, mas que por algum motivo, talvez para manter as aparências, talvez pelas prendas, talvez na esperança ingénua que é desta que tudo vai mudar, decidem fazer tréguas com tudo e com todos...e ao longo do dia vão desejando um Bom Natal e um Feliz Ano Novo!Que comovente...Andamos todos tão preocupados com a felicidade de um dos outros, não é?Tão bonzinhos que nós somos a encher a barriga de bacalhau e de outras iguarias irreais, das quais nos ressentimos sempre e juramos que nunca mais, e depois...e depois vem quem sabe a pessoa mais gorda da família (única altura do ano em que tem protagonismo) distribuir presentes e envelopes, muitos envelopes cheios de amor e carinho...
E assim adormeçemos a fazer contas à vidinha e a planear onde vamos gastar aquele rico dinheirinho que nem sabemos muito bem de quem veio o mais rápido possível, não vá depois ser preciso para coisas realmente importantes e ficamos nós sem os nossos casaquinhos de pele, os nossos mil adereços, autênticas armas de arremesso para podermos entrar neste jogo ridiculo que é a vida.
Acho melhor nem comentar o Ano Novo...como diria Ricardo Araújo in Gato Fedorento, "esse é outro!!"

terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Estar ao teu lado é como estar junto a uma fogueira, numa noite de chuva em que o vento arrefece os nossos corpos…
Sentir a tua voz é como beber um bom vinho quente, suave, que reconforta a minha alma por vezes perdida, por vezes sozinha…
Quero amar-te quando me amares, unidos num só abraço, como que fundidos num só ser, num só corpo, numa só alma.
Dançarei contigo ao som do nosso piano, das nossas cores, da nossa respiração e serei tua até o sol nascer…
Esperarei contigo o tempo que for preciso até uma nova maré nos inundar, até nos perdermos do resto do mundo, das pessoas, de tudo o que até agora estivemos ligados mesmo que pouco.
Não vai haver mais ninguém…vai ser o nosso sono mais profundo, mais bonito…
Eu só queria que ficasses…me olhasses, me amasses.

Mas quem disse que o amor não é feito de lágrimas? Lágrimas de saudade quando tiver que te deixar só, quando tiver que acordar sem te ter a olhar para mim como se um anjo fosses.

domingo, 29 de outubro de 2006

IDA AO TEATRO...


Princípio. Meio. Fim.
Quem disse?
Porque eu acho que uma história tem de ser demasiado boa para o ter, prefiro deliciar-me com o "makes no sense" da vida, das histórias.
O sentido simplesmente não existe, não tem de existir, pelo menos enquanto fizermos parte deste mundo, enquanto respiraramos, depois disso tudo é possível, até lá, o sentido das coisas é o que nós quisermos que seja.
Talvez a angústia da maioria dos comuns mortais advenha mesmo daí, de não encontrarem razões, de não encontrarem o tal sentido...angustia-me mais procurá-lo, e quem sabe até mesmo encontrá-lo.
Não quero. Não quero quebrar a magia de não saber o que aqueles que sabem o que querem dizer dizem, tal como não quero que descubram o que eu quero dizer quando realmente digo.
Quando não há princípio nem meio nem fim, tudo pode ser reinventado, por nós, e as histórias deambulam ao sabor da nossa imaginação, nada acaba mal quando não queremos.
A possibilidade de fazermos parte integrante de um jogo que não é o nosso, de fazermos o nosso próprio fim, ainda que fictício...aqueles que nos conseguem proporcionar o mistério das nossas vidas, aqueles que com um objectivo inseguro nos dão certezas de que as histórias existem e de que não precisam de ter qualquer conteúdo para serem belas, merecem os meus aplausos...e de pé...e foi assim ontem quando vi pela segunda vez a "peut-être".

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

RIO

Fui bem longe até ao fundo do mar, parecia-me o som das tuas ondas, o cheiro da tua alma, a cor do teu corpo, ondulante naquela noite ao luar…mas era o vento…gélido, arrepiante ao respirar, suave a deslizar na tua imensidão, na tua brancura inconfundível que só de olhar dá vontade de amar.
Aquela luz que cegava os meus olhos, o teu olhar, só o teu olhar me poderia cegar, não te vi, não te senti, preparava-me somente para entrar noutro vazio…o de não conseguir amar.
Ser naquela plenitude que só tu um dia enalteceste, por escassos minutos, por infinitos momentos, o meu coração voltou a viver…voltou a morrer…voltou a ser…foste como o sol, naquela brisa que te puxa, que te traz, mas insiste em não te deixar ficar.
Talvez os tormentos que me atormentam sejam sonhos que não consigo deixar de sonhar…as lágrimas que me vão acolhendo sem parar, e eu rio como um rio, que não quer deslizar mas que não consegue parar.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

LUAR...



Numa noite ao luar confessei os meus sentimentos
a uma estrela…a uma estrela que pairava no ar.
Cresci e sorri numa noite escura e fria,
mas que com o teu abraço, se tornou quente e única,
uma noite que eu não vou esquecer, que prometo
recordar ao olhar os teus olhos, ao olhar o meu coração
tão frágil quanto apaixonado.
Um toque nos teus lábios, nas tuas mãos,
foi a brisa que me levou, foi o vento que me tocou,
foi a lua que me conquistou…
Caminho nas tuas folhas secas e sofridas, interrompo
o teu destino, apago a tua sombra, e numa chama
de fogo tão esperado por ambos, unimos nossos corpos
gélidos e trémulos, numa noite…
Numa noite ao luar.
O teu beijo, o teu cheiro, as tuas mãos apertam-me
e asfixiam-me num sonho que jamais parece acabar.
Como duas vidas ao sabor de uma maré mal definida,
se uniram, numa luta incógnita do não saber até onde ir,
até onde chegar, até onde amar…
Fecho os olhos ao futuro, e tento neste momento agarrar
o que me dás, o que me fazes sentir…
Num mundo onde é impossível viver, sobreviveremos,
tenho a certeza, aos obstáculos que por certo em breve
surgirão, nem que não seja apenas com o sorriso,
com um sorriso de recordação.

P.S.- Acho importante referir que tinha 15 anos quando escrevi este texto.



sábado, 23 de setembro de 2006

TELEVISÃO PORTUGUESA

É com bastante perplexidade que olho para a televisão portuguesa, penso que seria tema a debater durante anos, não umas horas, dias ou meses não bastavam.
Nem tudo é mau, nem tudo é de baixissima qualidade, nem se pode tirar o mérito àqueles que trabalham, mesmo que, desculpem a dureza, em vão...Porque não é apenas preciso gostar de fazer televisão, para se fazer boa televisão, muito embora este seja um dos requisitos mais importantes, só pode! São muitos os requisitos que são exigidos, mas à partida há imensas pessoas fora deste panorama, aparentemente maravilhoso, ou porque não devem nada à beleza (existem pessoas feias, não me venham com falsas hipocrisias de que existe sempre algo de bonito...às vezes não existe mesmo, custa assim tanto a crer?), ou então porque não tiveram a cunha certa, ou melhor, não dormiram com a pessoa mais indicada, mas é uma questão de se ir tentando, e vai-se vivendo nem que não seja à custa de escandâlos (que não me deixam dormir...) que fazem o doce e a ternura das revistas fantásticas que nós por cá consumimos.
Este discurso, parece de uma pessoa que acabou de fazer um casting qualquer e que por motivos que não quer aceitar não foi a escolhida, e então toca a falar mal.
Não, não foi esse o caso, não fiz casting nenhum, nem farei enquanto as ofertas, e não falo de dinheiro, forem tão desprezíveis como até então o são. Enquanto houver comida na mesa, pode-se manter a dignidade, porque no país onde vivemos, mesmo que nasçamos com ela será absolutamente indispensável perdê-la, é a lei da sobrevivência.
Temos aí uma nova novela, ou série, não se sabe bem distinguir: "Jura", que dizem os nossos conhecidos da televisão, ser uma novidade em Portugal, o que discordo absolutamente, ordinarices já existem desde que me conheço, de púdica não tenho absolutamente nada, portanto não é por aí...o que os portugueses ainda não perceberam é que para mostrar sexo ao vivo e a cores, não precisam necessáriamente de esquecer todo o resto, o resto da novela, o resto da história, ou então que se assumam como actores de uma série eróctica a roçar a pornografia, já teria mais sentido.
Dá-me a sensação que todas as falas foram pensadas para um desfecho único: sexo, ou seja este não surge naturalmente, é com toda a certeza a base... Mete-me pena, aliás vergonha, "ver-nos" a fazer estas tristes figuras, gostaria de apelar à imitação, e não uma imitação com significativas readaptações, uma imitação integral.
Há uns tempos atrás quisemos ser rebeldes, e mostrar ao "mundo" que também discutimos, que também temos problemas, que as controvérsias da vida tocam a todos, nada melhor que o "Amo-te Teresa", uma óptima, linda, fantática curta metragem!Mais uma vez a história não interessa, o que interessa é demonstrar que não somos um povo conservador, pelo contrário evoluímos, portanto toca a dizer palavras como merda, puta, foda-se e caralho em televisão!Rebeldia no seu melhor, não acham?
Para culminar, não me contenho e tenho de focar a série mais educativa e didáctica de todos os tempos: "Morangos com Açucar", onde se aprende a melhor forma de mentir aos pais, como engatar e ir para a cama com um(a) míudo(a), as mais diversas maneiras de trair e estão incluidos amigos, como fazer uma sandes de erva, como apanhar uma valente piela...isto tudo até poderia passar por ficção na cabeça dos pobres adolescentes, se não fossem os media a confirmar que na realidade as personagens até são bastante levezinhas tendo em conta a realidade de cada um...atropelamento e fuga, anorexia nervosa, consumo de drogas, conduzir embriagado...
É, os portugueses são assim. Sofregos por mostrar tudo o que sabem naquele preciso momento, não sabem dosear, nem têm senso suficiente para admitir os seus próprios fracassos.
Televisão portuguesa?É uma mentira...só de pensar em como as pessoas se atropelam e nas vias fáceis pelas quais chegam ao topo, mais de cinquenta por cento da população interessada em seguir esta vida, irá apostar na formação?
"Deixa-me rir..."Bela música esta...

terça-feira, 19 de setembro de 2006

MAS...


Apetecia-me...mas... Porque há-de haver sempre um mas nas nossas vidas, ainda que muitas das vezes seja criado por nós, consegue assegurar sem dúvida que nada pode ser perfeito, quando talvez até possa.
A perfeição é olhada com desconfiança, com alguns arrepios, por isso mesmo é preferível que tudo ande somente no "mais ou menos", tal é o medo que a felicidade evapore e a queda seja brutal.
Ainda não encontrei ninguém que viva feliz, apenas porque o é pura e simplesmente, ou que tenha razões mais do que óbvias para o ser, mas que ainda assim, à custa da redoma que construiu à sua volta não o consegue ser...
De qualquer das formas, e mesmo sabendo que ao estar neste paraíso iria certamente encontrar com o que me queixar, queixas que posteriormente depois de saber que tudo tinha corrido bem se desvaneceriam... Apetecia-me...Tanto!!!

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

BATER À PORTA


Bato à porta sem cessar e de cada vez que bato esqueço-me da última vez que bati...deveria antes recordar, talvez para não bater mais, a porta não abre, sempre assim foi, sempre será, não sei qual é o meu espanto.
Espanto-me sempre, não me canso de me espantar, espero sempre que a situação se inverta e por algum motivo que no momento desconheço eu aceite essa inversão com confiança e acima de tudo com amor.
Com amor...esse existe, está lá, mas tão ferido por tantas e ao mesmo tempo pequenas palavras que para todo o sempre vão marcar a diferença..."ditas da boca para fora?", talvez nada seja dito ao acaso, ainda que esse nada surja simplesmento por mero acaso. Se as palavras nos saem da boca, essas palavras, saem-nos do coração, da cabeça...qual a diferença? Não as pensamos? Desconfio que nem cientificamente tal é possível, ou então, basta ler Freud e as suas célebres teorias dos famosos "recalcamentos".
Engraçado, agora lembrei-me, que bastou o facto de me sentir "íntima" de quase todos os filósofos, para fugir, para me afastar, para não querer saber, talvez pelo forte medo das palavras, daquelas que nunca diremos, porque em todos nós existe um lado obscuro, o qual renegamos, porque o conhecemos é óbvio...

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

A VIDA DÁ VOLTAS

Os meus olhos fecham-se com uma suavidade deveras assustadora para mim, talvez seja do cansaço, talvez da falta de paciência que tenho para quase todas as pessoas, talvez seja apenas eu, a esconder-me atrás de uma cortina, é tanta a luz como a escuridão, não consigo discernir qual prevalece, nunca sei...nunca soube...daí os passos tão incertos, apenas pensados, tornam-se por vezes em memórias, ou em atitudes contrárias, tal é o turbilhão de linhas e entrelinhas que me consomem sofregamente sem eu querer...
A vida assusta-me.
"As voltas que a vida dá!" Frase comum...um lugar comum que ninguém assimila, sobre o qual ninguém reflecte com a nitidez devida, porque às vezes vale mais mentirmo-nos do que encararmos a vida como ela é.
Todos procuramos o que não temos, queremos estar onde não estamos...e por aí fora, mas esta verdade é mais verdadeira para uns do que para outros, a diferença é que aquele que está no topo da escada raramente consegue ver o primeiro degrau ou quem nele está, ou até mesmo que um dia já lá esteve...
E depois fala-se de injustiça...todos nós nos sentimos injustiçados, sempre e com tudo, e não percebemos que a injustiça começa e acaba em nós, seria tão simples se as pessoas tivessem pura e simplesmente coragem para enfrentar "o touro pelos cornos", o problema é que regra geral o touro somos nós, e aí o caso muda de figura, porque sabemos, sempre soubemos e sempre vamos saber como viver a vida dos outros...
E a nossa?

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

SIMPLESMENTE GOSTO!


Gosto de tomar o pequeno almoço bem cedo e voltar a dormir até bem tarde.
Gosto de sentir a água do chuveiro a escaldar.
Gosto de caminhar descalça pela casa.
Gosto de tomar café numa esplanada.
Gosto de adormecer com música.
Gosto de comer gelado com o aquecedor ligado.
Gosto de ver filmes sózinha.
Gosto de olhar os outros.
Gosto de falar com estranhos.
Gosto de subir a um palco e criar expectativa.
Gosto de dançar em frente ao espelho.
Gosto de cantar por cima das músicas.
Gosto de conduzir.
Gosto de ter um destino.
Gosto de me preparar e ficar bonita.
Gosto de bananas.
Gosto de pessoas sensíveis.
Gosto de pessoas complexas e complicadas.
Gosto de nadar no mar.
Gosto de vestir os outros.
Gosto de não ter nada para fazer.
Gosto de nada e de tudo...
Simplesmente gosto!

PALÁCIO


Sou uma princesa, não ligo ao facto de o ser, nem sei o que é ser-se princesa, talvez porque nunca deixei de o ser, mas esse pensamento não me ocorre, não se entranha, porque só tenho olhos para uma única coisa.
Não gosto dos meus pais, não os conheço...ou prefiro não conhecer, talvez o elemento chave para se ser uma princesa de verdade, ser carente como as outras...humilde porque necessita do que ninguém alguma vez sonhará que ela pudesse um dia necessitar...incompreendida...
É Outono, faz frio lá fora, não mais do que no palácio...grande e gélido, mas bonito, preeenchido de armaduras, veludos, corredores labirinticos, falsas portas, mil esconderijos, mil artimanhas, velas...muitas
velas...espalhadas pelas paredes forradas de papel, como o meu quarto.
Estou sentada na minha cama, a balouçar os pés, é alta e dura, com muitas almofadas e poucos lençóis.
Olho pela janela embaciada, estão árvores, grandes, fortes, com tons quentes, tons suaves...que abanam e abanam deixando cair as suas folhas amarelas...como quem estivesse a dizer um suave adeus de reconforto.
Não se ouve nada, apenas o vento, adoro o vento, a entrar pela janela...os cavalos relincham...talvez se aproxime uma tempestade.
Sei que todos os compartimentos estão ocupados, e isso basta-me.
Amanhã irei tocar violino para o meu amor, e iremos dançar apaixonadamente, talvez casar...com o meu vestido de renda beje brilhante...talvez naquela pequena capela, naquele pequeno monte...

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

PORQUÊ...

As palavras esgotam-se...as forças esgostam-se...o entusiasmo, esse e a alegria já lá vão, ficaram lá, algures perdidos na imensidão do nada, daquele que temos a certeza que existe.
Às vezes tudo parece tão negro, a cor esvai-se e derrama sobre as poucas esperanças de pertencer a um mundo colorido...mas os outros tratam-nos sempre de maneira igual, talvez porque insistimos em mostrar aquilo que não é, ou talvez fazer uma demonstração daquilo que já fomos...enfim...as palavras esgotam-se, ou melhor, palavras para quê, tornaram-se fracas, impotentes, adulteradas mal se ouvem, entendidas de mil formas diferentes e nunca a certa.

Porque tento eu compor o que não tem arranjo possível, e se o tem eu não possuo de maneira alguma as ferramentas certas?

Porque insisto eu em tentar resolver os problemas que não são meus?

Porque teimo eu em ser justa, recta, firme, aguentar com tudo e todos independentemente de mim, do que eu possa estar a sentir, do quanto eu possa estar a sofrer?

Porque nunca rebento?

Porque não me dou ao luxo de cometer uma loucura sem antes pensar nos outros?

Porque tento fingir que está tudo bem?

Porque é que nunca consigo ser sincera comigo mesma?

Porque é que nunca me permito falhar? Ou que já falhei?

Como consigo eu falar japonês sem sequer saber japonês?

Porque é que os meus ouvidos ouvem todas as linguas?

Porque é que sou o pilar? O porto seguro?

Porque é que tenho de transmitir segurança, confiança, se não a sinto?

Porque é que tenho de dar conselhos?

Porque é que todos acham que sou uma pessoa forte e determinada?

Porque é que estou sempre onde não quero estar? Geralmente a falar do que não quero falar?

Porque haverei eu de ser a eterna diplomata?

Porque é que tenho medo de perder até o que não gosto?

Só me resta chegar a uma conclusão...
Óbvia não?

A de que o neurologista não estava bom da cabeça quando chegou à brilhante conclusão de que tenho o cérebro mais desenvolvido do que a maioria das pessoas.

Só posso ser burra, e nada mais digo...
Aliás até digo, se uma determinada pessoa lesse este texto, acrescentava:"Não sabes fazer pontuação!!" e "Deixa de ter pena de ti mesma".

sábado, 12 de agosto de 2006

MAFALDA VEIGA


Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos e o mundo nos leve para longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
tudo se desfaça num gesto só
Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo onde só chega quem não tem medo de naufragar

domingo, 30 de julho de 2006

INSPIRAÇÃO


Questiono-me vezes sem conta onde qualquer escritor, ou com pretensões a tal, vai buscar a dita inspiração. Às vezes nada sai, há dias de bloqueio interior, a alma não quer falar, talvez seja o momento em que sabemos mais de nós, o momento que fazemos luto, o momento de silêncio profundo e doloroso, que não deixa uma única lágrima correr, seria bom conseguir deixar-me chorar, mas quando a mágoa dilacera o nosso coração, o choro acaba por não ser nada em comparação com o que estamos a sentir...
Quantas vezes pego na caneta e a mão treme, não quer desenhar uma única letra, faz rabiscos que preenchem a irritação do vazio, do papel branco, inócuo...
Um dia o escritor António Lobo Antunes, respondeu-me a esta questão da inspiração de uma forma simples, que ao ínicio achei que em nada me ia ajudar, mas também só mais tarde me apercebi que a realidade, a verdade, não é só por si um garante de salvação. Não vou citar, tenho medo de não ser precisa, mas o que aquele senhor que transpirava paz de alma, juntamente com o cheiro de Ventil, me disse, foi tão somente que nem sempre se tem inspiração, mas quando se quer escrever esta tem que se trabalhar, tem que surgir, nem que isso signifique horas à volta de um parágrafo de duas linhas.
Parece simples...mas exige reflexão, exige lógica, exige beleza, não natural, mas criada, com todo o mérito que possa ter, e tem.
Mas quando há inspiração...quando as palavras soltas se cruzam em encruzilhadas labirinticas, com saídas fáceis, obstáculos difíceis, e nos fazem suspirar, suspirar de amor...tudo muda...
Porque tudo reside nesse lugar obscuro, não explicável, completamente irracional, que nos proporciona sensações...ridículas...ridiculas...mas absolutamente deliciosas invejáveis...
Só para amar a inspiração é desnecessária, talvez porque seja qualidade inata de quem ama verdadeiramente.

sábado, 22 de julho de 2006

CORPOS


Corpos desnudados partilham o mesmo espaço, colam-se com o suor da adrenalina que não conseguem controlar, tocam-se com a magia do sentir, com o amor humano.
O calor ferve nos olhos de cada um que se olha e que se imagina num outro daqui a poucos instantes, não tarda a esquecermo-nos do que vimos antes, do que ouvimos, apenas fica o cheiro, o toque, talvez o paladar único, inagualável...
Naquele momento não há linhas, não há contornos voluptuosos, suscitantes de desejos ocultos...
Naquele momento não há projectos, expectativas, nem sonhos...
Naquele momento aprendemos a olhar para o interior de quem já pensávamos um dia ter visto, com a possibilidade de vermos o oposto, de vermos uma beleza desconcertante, tímida, uma beleza que transcende o carnal, que transcende o próprio transcendental...
Naquele momento damo-nos conta que não passamos de ser humanos, que somos iguais e que ao mesmo tempo ninguém, nem mesmo nós próprios sabemos o que quer que seja em relação ao tudo gigantesco e fenomenal que nos envolve, sempre nos envolveu e sempre nos envolverá.
Naquele momento corpos despojados de pudor...corpos puros...virgens...desnudados juntam-se num abraço imaginário, num sentimento sincero de:
-"Eu sei o que estás a passar...Eu estou a passar pelo mesmo!"
Naquele momento entramos em cena porque não podemos recuar, não estamos na vida real, onde pensamos poder adiar o inadiável, naquele momento temos de dizer o que temos de dizer, temos que sentir o que temos de sentir, e dizemos! e sentimos!
Aquele momento jamais se voltará a repetir, também já não o podemos alterar, está feito, mal ou bem, fomos nós que ali estivemos e demos o nosso melhor, ainda que inconscientemente.
No final as palmas, o ecoar dos aplausos, o brilho nos olhos de corpos já vestidos, de corpos que nós passámos a conhecer enquanto tal e somente como tal...todos somos apenas corpos. Verdade difícil de aceitar, ou não seria uma verdade!

segunda-feira, 17 de julho de 2006

FÉRIAS??


É com bastante admiração que o comum mortal reflecte no facto dos índicies de suícídio serem maiores no Verão do que no Inverno! Pois a mim não me causa espanto algum, até acho compreensível, apesar de não considerar pláusivel desfecho tão trágico.
Ao Verão associa-se de imediato férias! A estas (férias) locais paradisíacos! A estes um descanso profundo que irá compensar o trabalho duro que tivemos durante um ano! E como se não bastasse, também pretendemos total harmonia, felicidade e farra com aqueles com quem vamos! Não será pedir demais? É claro que sim, mas nem por isso estas férias deixam de preencher os nossos desejos, logo se não as tivermos, (quase ninguém as tem), vem por aí um grande drama!!
Porque fica sempre bem responder à pergunta da praxe:
- "Então como foram essas férias?"
- "Muito boas!Este ano optámos pela neve!"
....ou....
-"As viagens que fizemos foram uma loucura total!"
Ninguém quer dizer, e eu acho piada a isto, (estou-me a rir neste momento):
- "Este ano nem fiz férias,isto está mal de finanças!"
....ou pior ainda....
- "Fui até à Barra quinze dias, aquela pensão era muito jeitosa!"
A questão é que, para muitos não para todos, porque não quero generalizar, o pico das férias nem são bem as férias, mas o regresso, o bronze, e as novidades (quase sempre exageradas) que se tem para contar! Para outros tantos gera-se o pânico. Porquê? Porque não há nada para contar, ou ainda o que há é seguramente muito deprimente e como tal uma humilhação.
Qual a admiração de tantas depressões no Verão? De tantos suicídios? Tempo livre, significa tempo para pensar, e muitas vezes para chegar a conclusões drásticas, de que não temos realmente nada que nos interessa para fazer, ou pior, não temos ninguém...
É uma época em que quase se exige boa disposição, alegria, que a vida nos corra bem...e aqueles com reais problemas tornam-se evidentemente em alvos fáceis, em pessoas frustradas que vêm aquilo que desejavam ser ou ter nos outros de uma forma perfeita. Ainda que não exista perfeição, todos nós o sabemos, um deprimido tem grandes facilidades e bons argumentos, para a encontar nos outros!
Mas isto não cabe só no Verão, mas em todas as épocas festivas...desde o Carnaval ao Natal, talvez só mesmo a Páscoa passe, porque é entediante para todos!!!
Como o Jorge Palma diz: "Reduz as necessidades se queres passar bem..."

quinta-feira, 6 de julho de 2006

ETERNAMENTE SÓ?

Às vezes damo-nos conta de que estamos sós, e de que os grupos não passam de uma fachada, de uma farsa, que existem porque cada um sabe que proveito quer tirar...mas será possível não se tirar nenhum proveito de um grupo mesmo sem essa intenção? As pessoas aprendem umas com as outras, até com as mais fracas...temos sempre algo a dar de nós, por mais que seja pouco, ou por mais que não interesse a ninguém. Mas ainda hoje se cai no profundo erro de querermos aprender com os melhores, sem termos consciência que os melhores já foram os piores e para subirem a dita escada da fama, que pelos vistos só isso justifica juntarmo-nos a alguém, precisaram igualmente de lidar com todo o género de pessoas, mesmo aquelas que à partida temos a noção de que não nos interessam no sentido de aprendermos algo com eles.
Quando se quer brilhar, nem que não seja para nós mesmos, e já considero um grande feito, temos de arregaçar as mangas e seja o que Deus quiser, porque nada nesta vida é prevísivel, muito menos o sucesso!
É com grande desespero que lido com a falta de humildade de pessoas que sem conhecerem as outras, ou melhor, que sem as tentarem conhecer, erguem desde logo uma enorme barreira, de tal modo grande e forte que se torna à partida impossível de derrubar. Só nos damos conta que não aprendemos nada com determinado trabalho depois de o realizarmos, e mesmo esse nada, foi um nada que foi apreendido!Existem ainda pessoas que têm medo de perder tempo...e não se apercebem que a partir do momento que colocam essa questão a elas próprias, não só já estão a perder tempo, como já perderam uma série de oportunidades!
Mas o que é isso de perder tempo?O que é tempo perdido?
Já fiz trabalhos que não me deram prazer, mas daí a considerar uma perda de tempo vai um longo caminho!!
Há alguém que vai perceber este texto lindamente...fiquei a pensar, foi positivo?Sim!Todos os minutos da vida contam, mesmo aqueles em que se preenchem de dissabores e desilusões.
Tenho tanto a aprender...tanto, e estou ansiosa por mais, venham as "marradas" contra a parede, só isso me faz continuar!É a lei da insatisfação!!
Uma vez o encenador John Mowat disse-me no seu inglês cerrado (passo a traduzir): "Há coisas em ti tão pequenas, não passam de pormenores, mas que me dão vontade de pegar em ti e trabalhar exaustivamente só contigo, mas não posso, estamos em grupo!".
Vindo de quem vem, de uma pessoa que eu admiro profundamente, um génio das artes de teatro fisíco-visual, foi algo que nem consigo explicar por palavras, encheu-me o coração, não por momentos, não por umas horas...mas para o resto da vida! Porque confirmei a minha teoria, quem ama o teatro não precisa de grandes personagens para ser o protagonista, quem é humilde ao ponto de repetir os mesmos exercícios vezes sem conta, mesmo tendo em mente que já fez aquilo uma série de vezes, só pode estar nesta vida por amor, porque quer aprender!
Quero lá saber de onde vem o teatro!Quando nasceu!Quem o inventou!Quem foram os mais célebres protagonistas!...Os melhores músicos regra geral não sabem ler pautas!O Saramago não sabe fazer pontuação!O Mia Couto reinventa palavras que não constam em parte alguma!...O Einstein era um péssimo aluno a matemática!O Woody Allen trabalhava numa fábrica!Isto diz tudo, e muito mais, fecha a questão!Assunto arrumado!Quando se quer vai-se em frente e não se colocam questões!

domingo, 2 de julho de 2006

AMAR ADENTRO


Ficou dentro de mim a necessidade de morrer para viver, para viver melhor, não mais...A certeza de que viver é um direito e não uma obrigação...Só os cobardes acham que não podem fazer nada às suas vidas para as mudar, podem fazer tanto, podem mesmo desistir de as viver, mas com dignidade, com a dignidade de perdurar apenas o tempo em que temos algo para dar, algo para ti, para aquele que sabemos valer a pena.
Que sensação fabulosa de liberdade me invade ao pensar no livre-arbítrio de cada um de nós, fingimos não possuir liberdade, para que seja esta que nos comande, para que seja esta a decidir por nós e ainda nos damos ao luxo de não gostar do que nos cai do céu, enquanto sentados esperamos que um dia tudo mude.
Ainda existem pessoas que sentadas conseguem mudar o seu destino, apenas com a força da alma, que lutam mais pela vida ao desejar a morte do que muitos que fogem dela como se não tivessem nascido, mas não conseguem nem por minutos vivê-la, amá-la.
É com tristeza que olho para o olhar dos olhos dos outros e não vejo para além da côr...vejo vazio...é bonita mas não alimenta a alma...Só quando perdemos verdadeiramente conseguimos rir para não chorar, só aí sabemos pensar, só aí saberemos viver, quando já não o pudermos mais...
É um filme comovente..."Mar Adentro".

domingo, 25 de junho de 2006

PELA NOITE DENTRO


Ontem à noite apercebi-me o que uma simples falha de luz pode causar, para muitos um grande trantorno, acredito que plausivamente justificável, mas para outros tantos, para nós foi um grande alívio e a demonstracção mais clara que as pessoas têm muito mais a dar de si, apenas não o fazem porque às tantas não têm espaço.
Mudámos de bar porque a conversa caía invariavelmente no "apagão", e o som da música perturbante que nos entra nos ouvidos estava-nos de certa maneira a fazer falta, naquele espaço, com os hábitos a ele inerentes pareceria no minimo estranho não haver reacções adversas e felizmente as ouve.
Os candeeiros todos estilizados deram lugar a velas de segunda, mas que souberam dar um ambiente de primeira, a música aos altos berros por sua vez deu lugar a uma guitarra acústica e a diversas vozes que se foram juntando ao longo da noite, entoando melodias que ninguém gosta, ou que ninguém aceita gostar!Qual house qual quê!Venha o Sérgio Godinho e afins, porque no fundo são essas que nos unem, e que nos fazem recuar a tempos passados, que nos provocam nostalgia, mas acima de tudo uma grande afinidade com qualquer estranho que ali estivesse, já bastante bem "bebido", as posições ditas correctas para se estar num café depressa se alteraram, depressa nos sentimos em casa, no nosso conforto, onde esticamos as pernas onde calha e nos espreguiçamos com toda a convicção sem medo de fazer aquela cara feia ao bocejar!
São estas as pessoas a que gosto de chamar de pessoas...Resta saber se são precisas todas estas condicionantes para nos vermos com olhos de ver.

sábado, 17 de junho de 2006

CAMINHOS


Num deserto sem fim, percorri caminhos incertos, caminhos que deslizam nas sombras do meu ser, da minha alma imune, mas que procura incessantemente ver.
A noite ao luar, as estrelas a cintilar, e o teu barulho a adormecer-me, sentia a tua respiração quente e quase surda, ouvia o teu sorriso distante em ecos de recordação, e eu perdida na escuridão.
A ilusão diante dos meus olhos fazia-me desejar, fazia-me querer agarrar, mas está longe, tão longe esse mar.

Levantar-me, sair da areia onde me encontrava mergulhada não mais que horas talvez, mas para mim anos, era cada vez mais penoso de suportar.
A tua voz, o som da tua voz…a sussurrar, ainda era a espada mais forte, que lutava sem água para sobreviver, mas com vento para voar nos meus sonhos, no meu eterno imaginário a pairar.
Queria correr, saltar, talvez gritar…e porque não amar…amar mais, para mais tarde contar aos demais.
E as lágrimas caíam, o corpo está cansado, a alma não obedece e a confusão permanece.
Sentimentos vazios, ocos de profundidade, belos ao comum mortal…tão desejados na minha mera existência, tão afastados na minha consciência…
Paz, sentir o branco a entrar nas veias, a percorrer os caminhos incertos e ínfimos da estrada que é a vida, sentir o arrepio de frio ao penetrar o fogo dos teus olhos, sentir a vida a tomar forma, a ganhar cor, consistência…sentir-me sem a poder viver, respirando a esperança de poder conquistá-la, agarrá-la, e talvez porque não um dia amá-la…

quinta-feira, 15 de junho de 2006

MAR


Sinto as ondas baterem na minha face
estão tão geladas, quando eu só precisava de calor
o vento…esse quase que leva o meu corpo
embala a minha alma e faz-me duvidar se quero enfim,
continuar…
Que aperto cá dentro, que sufoco, que agonia,
porque chorarei eu afinal?
Só queria parar, só gostava de ter forças para parar
de lutar e ir somente em frente, voar,
e desaparecer no luar…
A areia…a areia está-me a magoar! Tirem-na daqui!
agora! Já! Mas é tanta, tão imensa…e agora?
Como irei eu fugir dela?
Se tudo o que se depara à minha frente é somente
o infeliz deserto.
Eu não quero, não quero… continuar aqui…
Sozinha…no escuro, no frio…e com esta areia
Sempre a incomodar-me, sempre a magoar-me…
Que nem as ondas limpam
Que nem o vento leva
Que só o sol a secaria, só o sol a derrubaria…

sexta-feira, 9 de junho de 2006

SONHO


Ela estava a chorar...não ouviu os seus passos, silenciosos, suaves, macios como sempre. Olhava o vazio com uma profundeza inquitetante, com uma serenidade gélida, de quem por mais nada espera, de quem por tudo já espera.
Não quer saber do sol lá fora, ele brilha mas não a aquece, nunca a aqueceu, nunca fora o suficiente para fazer dos seus dias, dias luminosos, pelo contrário, traziam-lhe à memória, memórias perdidas, guardadas num coração impossível de colar, num coração gasto, sofrido de amar.
Chorava tempos idos, chorava os sorrisos, as gargalhadas que outrora teve vontade de soltar e não soltou, chorava os momentos não vividos, os momentos parados, chorava por ele.
Os passos percorriam na escuridão a desarrumação de uma vida inteira de impaciência, indiferentes ao espaço procuravam apenas um local para ficar, ficar para o resto da eternidade...ela não os ouvia, não conseguia, já há muito...embora já há muito esses não tivessem saído do mesmo local, mas ela não via, não queria...
Fechou os olhos e deitou-se na cama, encolhida, coberta de cobertas encarquilhadas, guardadas nos armários de sempre, com o cheiro de sempre, doce, um cheiro de amor, inalando com a pressa de quem tem de respirar para sobreviver...
Não sabia onde estava, tudo estava mudado, mas tinha a certeza de que ela estava lá, sentia-a, ouvia os seus soluços...e a sua vontade de a abraçar aumentava, passo a passo, degrau a degrau, esquina a esquina, corria sofrego à procura do que deixou para trás sem saber como, sem se perceber a si mesmo, tropeçava como tinha durante tantos anos tropeçado com a diferença que agora tinha decidido continuar, independentemente de tudo, indiferente à dor...
Uma músia começa a ecoar bem lá no fundo, ambos a ouvem, ambos a dançam sozinhos mas acompanhados como sempre, perdem-se no tempo, a mente não sossega, não pode sossegar, voa...ambos querem voar...quando se chocam...
Dois olhares penetretantes cortam o silêncio dilacerante que corrói a velhice das paredes, a velhice dos objectos, o cheiro...esse, está agora mais vivo que nunca, já não é preciso fechar os olhos. Ele toca-lhe no rosto...Ela sorri...O toque é forte, prolongado, insistente, desenfreado, louco...
A sensação de paz é imensa, a felicidade tinha voltado, não precisava de mais nada, nem de comida, nem de água...apenas mais uns tempos de vida para se recordar daquele sonho...
Sonho que a iria manter acordada até na exaustão poder adormecer de novo, sem medo, sem medo de não sonhar...

domingo, 4 de junho de 2006

DINHEIRO


O mundo é engraçado, faz-me rir...quase sempre um sorriso irónico, mas ainda assim um sorriso...É sobre a morte que vos quero falar, mas a morte vista de uma outra perspectiva, nova, embora a mais velha de todas. É tema quase tabu para a maioria das famílias falar-se em dinheiro depois de um acontecimento trágico, como é o caso da morte, é tabu, enquanto o que foi ainda não foi...porque mal o coração deixa de bater, e depois de algumas lágrimas derramadas, toca a tratrar de assuntos pendentes. Nunca vi tanta pressa, tanta vontade, tanta disponibilidade e tanto conhecimento por parte das pessoas como nesta fase...parece que de um momento para o outro é necessário unirmo-nos para falar de coisas, que estratégicamente são imensamente bem pensadas antes de serem ditas, não vá o diabo tecê-las.
Até então ninguém quer saber de dinheiro para nada, depois chega-se a questionar como foi possível sobreviver com o que tinhamos.
Descobrem-se tantas carecas...descobre-se tanto acerca dos outros, tantos mistérios, tantos segredos...mas ninguém quer saber, vale tudo, não se olha jamais a meios para chegar a fins, o que importa realmente é usurpar e não se ser usurpado.
Achamos sempre, ou queremos achar, que connosco, com a nossa família vai ser diferente, mas não é, e custa tanto a acreditar.
Com o tempo aceitamos, porque para pessoas como eu, o dinheiro não é tudo, chega a ser mesmo nada. Mas a mágoa faz-me reclamar justiça, não a dos homens, nessa não acredito, mas sim a divina.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

DESILUSÃO

DESILUSÃO

De todos os sentimentos que até hoje experiênciei, a desilusão é sem dúvida o mais penoso. E tudo invariavelmente se prende com as falsas expectativas que criamos em relação ao outro. Desiludirmo-nos nem por isso é fácil, de tal forma fugimos a essa dor, porque é uma dor, que como tantas outras não mata mas corrói, e o que corrói só pode matar. Mata a alma, mata a alegria de viver e mata acima de tudo a confiança que antes depositavamos no bom senso dos outros.
Talvez não devessemos à partida esperar muito dos outros...ou esperar apenas o que nos têm a oferecer...mas será isso o suficiente? Ou o que é suficiente para nós existe? É possível conformarmo-nos com o que temos, mas será isso que fazemos de melhor, ou desta forma estamos apenas a desistir? Também para desistir é preciso ter coragem, abandonar o que sempre defendemos e apreendermos a realidade tão somente como ela nos é apresentada, é desilusão. Esperamos sempre que os amigos façam connosco o que nós fariamos com eles naquele preciso momento, mas isso nem sempre, salvo raras excepções, acontece, e parecendo que não isso transtorna-nos, ao ponto de nunca mais olharmos essas pessoas da mesma forma. No imediato para além desse sentimento atroz, tudo se esquece, tudo se perdoa, mas o nosso instinto de sobrevivência é maior, e qundo precisamos de algo sabemos com quem ir ter. O engraçado é que existem amigos de todos os géneros e feitios, o amigo que é bom para a farra, para os copos, o amigo com quem nos sentimos confortáveis em conversa de café, o amigo que nos ouve exaustivamente nos piores momentos, o amigo ideal para ir às compras, o amigo com quem simplesmente partilhamos o silêncio, ou até aquele que nos diverte.Qual destes é o verdadeiro amigo? Ou é o amigo? ninguém reúne tudo isto, é impossivel...se quero beber um copo, já sei que nessa noite no minimo tenho que estar animada, e mais do que isso animar os outros, requisto essencial para não saltar de imediato daquele circulo social, não posso por momento algum tocar em acontecimentos mais desagradáveis...Faz-me pensar que afinal apesar de não conseguirmos sobreviver sem ou outros, diáriamente vivemos sem eles, sozinhos. Pior, parece-me que quase compramos um serviço, que de antemão sabemos ir receber de determinada pessoa. E tudo isto porque deixamos de acreditar, porque a desilusão perante o que vemos é tanta que mais vale precavermo-nos e munirmo-nos de tudo e de todos, para nos podermos defender e quase sempre atacar.Porque às vezes parece-me que vivemos em plena guerra fria.

segunda-feira, 29 de maio de 2006


Porque vivemos nós sempre de acordo com aquilo que julgamos ser correcto? E abandonarmos a personagem de vez em quando, não seria bom?
Era bom, mas tão difícil para tantos, alguns já não se lembram quem são, quais as suas raízes, quem os ajudou, ou ajuda quando realmente necessitam. Parece até aqui um discurso de uma pessoa revoltada, que está farta de hipocrisisas, de uma vida com glamour a mais, uma vida fútil, cheia de aparências que nos deixam voar sobre um mar de expectativas absolutamente gigastesco...mas não infinito, porque as mentiras custam a manter, e a verdade vem mais tarde ou mais cedo ao de cima. O que à partida parece um lugar comum, e até o é, mas é das verdades mais absolutas que conheço.
Não, não estou revoltada, muitos não o estão, o que é mau, desnganem-se se pensam que a calmia que muitos outros demonstram é sinal de paz, porque na veradade só Deus sabe. Não pretendo mudar o mundo, porque não? Porque não, e por agora não arranjo justificação melhor, ou pláusivel, mas na verdade não consigo deixar de ficar indiferente às pessoas, ao ser humano em si, e o quão é ridiculo.
Chegou o bom tempo, de repente vêm-se um cem número de pessoas, que nunca vimos em lado algum, a encher, a abarrotar os esplanadas dos lugares considerados mais in, e mais in porquê? porque é lá que estão aqueles a quem se querem mostrar, e a noite está ganha! não se falou sobre nada, não se ouviu nada de importante, quando muito fumaram-se uns cigarros que já não apetecem verdadeiramente e beberam-se uns copos, cujo liquido nem nos agrada muito, mas dá estilo. E aí andam elas à caça!E eles a mirar, quando nãopodem ir mais longe, mas com noites quentes tudo é possível. Substitui-se o blusão de penas e o puxo por uma bruta de uma mini-saia, algo que realçe o peito (quando existe!!!) e todos os acessórios disponíveis de preferência com as cores mais berrantes do planeta. Tudo para quê?
Auto-estima, gostarmos de nos sentirmos bonitas?! blá, blá, blá....
Esqueci-me!Tudo isto para às 23h30m estar em casa, porque afinal estamos a falar de meninas recatadas, inteligentes? Desconfio....
Questiono-me, estarei eu a viver num mundo à parte e por força de tanta exuberância, a cegueira foi-se?
Isto é tudo muito mais complexo do que aparenta ser, porque depois há as excepções, ou aqueles que nos surpreendem pela positiva....mas não me parece que as pessoas, ou a sua maioria estejam a ir pelo bom caminho. Porque há valores que ultrapassam qualquer sorriso pepsodent, qualquer par de seios supinos....enfim.
Resta saber onde estão esses valores!! E por favor se não os colocam em prática todos os dias, não continuem a dizer que os têm.