sábado, 17 de junho de 2006

CAMINHOS


Num deserto sem fim, percorri caminhos incertos, caminhos que deslizam nas sombras do meu ser, da minha alma imune, mas que procura incessantemente ver.
A noite ao luar, as estrelas a cintilar, e o teu barulho a adormecer-me, sentia a tua respiração quente e quase surda, ouvia o teu sorriso distante em ecos de recordação, e eu perdida na escuridão.
A ilusão diante dos meus olhos fazia-me desejar, fazia-me querer agarrar, mas está longe, tão longe esse mar.

Levantar-me, sair da areia onde me encontrava mergulhada não mais que horas talvez, mas para mim anos, era cada vez mais penoso de suportar.
A tua voz, o som da tua voz…a sussurrar, ainda era a espada mais forte, que lutava sem água para sobreviver, mas com vento para voar nos meus sonhos, no meu eterno imaginário a pairar.
Queria correr, saltar, talvez gritar…e porque não amar…amar mais, para mais tarde contar aos demais.
E as lágrimas caíam, o corpo está cansado, a alma não obedece e a confusão permanece.
Sentimentos vazios, ocos de profundidade, belos ao comum mortal…tão desejados na minha mera existência, tão afastados na minha consciência…
Paz, sentir o branco a entrar nas veias, a percorrer os caminhos incertos e ínfimos da estrada que é a vida, sentir o arrepio de frio ao penetrar o fogo dos teus olhos, sentir a vida a tomar forma, a ganhar cor, consistência…sentir-me sem a poder viver, respirando a esperança de poder conquistá-la, agarrá-la, e talvez porque não um dia amá-la…

2 comentários:

Maria Cota disse...

Eis a prova cabal de que é possível escrever poesia em prosa. O que importa não é a forma. Os versos parecem desnecessários. O mais importante é o substracto. O substância do Amor, que tem de ser sempre excessiva. Amar demais. Sempre.
Beijinhos
Mary

Anónimo disse...

Escrever é um acto de liberdade, quero dizer, deveria ser. Mas, como tu sabes muito bem (prosaicamente falando), “libertarmo-nos de algo”, ganhará tanto ou mais valor moral, quanto mais difícil se tornar o acto de libertação, ou seja: uma coisa é eu libertar-me, por exemplo, de uma peça de vestuário, outra, completamente diferente, será tentar perceber porque razão me comporto inconscientemente de uma determinada forma, que considero eticamente reprovável, mas, porque é estruturante da minha pessoa, acabo por ver-me num grande sarilho para me ver livre dela. Não sei se fui claro, mas a intenção era essa. Ora, eu acho, se me é permitido o arrojo, que os excertos do teu blog revelam uma preocupação libertadora que, como é próprio da tua pessoa e de todas aquelas que se preocupam com a condição humana, não está objectivada num aspecto particular, mas num conjunto de problemas existenciais subentendidos nos temas que abordaste: Caminhos, Mar, Desilusão, Sonho e o Materialismo. Aproveito agora para te lançar um desafio, não será complicado dada a tua formação académica, história, não é verdade? Já pensaste em quão forte é a corrente, o lastro invisível e poderoso, tal qual lava que corre há pelo menos quatro mil anos, que desemaranhará essa embrulhada que é a nossa forma de pensar o mundo e determinará todas as nossas prioridades, as nossas opções, e mais preocupante ainda, aquilo que pensamos dos outros e de nós mesmos? Poderás estar a pensar porque é que este “pseudo exercício” terá algum interesse… Eu explico radicalizando a coisa em duas pequenas questões: Quais os diferentes pontos de vista que coexistirão nas cabeças do cristão bárbaro moralista, no heróico Eneias e na sensual Afrodite? De entre todos eles quem descreverá o mundo com mais alegria e mais cores, sem recorrer constantemente a esse enfadonho “mal de vivre” ? Quando achares as resposta para as questões que te coloquei, ficarás resignada como eu, porque chegarás a conclusão que passamos mais tempo na condição de objectos do que de sujeitos na nossa vida.