sábado, 22 de julho de 2006

CORPOS


Corpos desnudados partilham o mesmo espaço, colam-se com o suor da adrenalina que não conseguem controlar, tocam-se com a magia do sentir, com o amor humano.
O calor ferve nos olhos de cada um que se olha e que se imagina num outro daqui a poucos instantes, não tarda a esquecermo-nos do que vimos antes, do que ouvimos, apenas fica o cheiro, o toque, talvez o paladar único, inagualável...
Naquele momento não há linhas, não há contornos voluptuosos, suscitantes de desejos ocultos...
Naquele momento não há projectos, expectativas, nem sonhos...
Naquele momento aprendemos a olhar para o interior de quem já pensávamos um dia ter visto, com a possibilidade de vermos o oposto, de vermos uma beleza desconcertante, tímida, uma beleza que transcende o carnal, que transcende o próprio transcendental...
Naquele momento damo-nos conta que não passamos de ser humanos, que somos iguais e que ao mesmo tempo ninguém, nem mesmo nós próprios sabemos o que quer que seja em relação ao tudo gigantesco e fenomenal que nos envolve, sempre nos envolveu e sempre nos envolverá.
Naquele momento corpos despojados de pudor...corpos puros...virgens...desnudados juntam-se num abraço imaginário, num sentimento sincero de:
-"Eu sei o que estás a passar...Eu estou a passar pelo mesmo!"
Naquele momento entramos em cena porque não podemos recuar, não estamos na vida real, onde pensamos poder adiar o inadiável, naquele momento temos de dizer o que temos de dizer, temos que sentir o que temos de sentir, e dizemos! e sentimos!
Aquele momento jamais se voltará a repetir, também já não o podemos alterar, está feito, mal ou bem, fomos nós que ali estivemos e demos o nosso melhor, ainda que inconscientemente.
No final as palmas, o ecoar dos aplausos, o brilho nos olhos de corpos já vestidos, de corpos que nós passámos a conhecer enquanto tal e somente como tal...todos somos apenas corpos. Verdade difícil de aceitar, ou não seria uma verdade!

3 comentários:

João Leite Duque disse...

Palavras traduzidas,
palavras sentidas,
aqui as encontro,que por vezes não me sai em na hora mas que são sentidas,
aqui sim...
vejo e sinto :)
Não somos mais que corpos,
que se alteram com um simples olhar,toque e imaginação,
Por mais que tentemos entender quem nos tá proximo,nunca o conseguiremos,pois cada um é diferente...
os nossos corpos são mera passagem pela vida qual nós chamamos real,mas será? que vida esta que tb faz sofrer? mas tb amar?
somos sim seres de alma e coração :)

Um beijinho ritanery :)
tem um bom inicio de uma boa semana e de uma boa 2ºfeira :)
sorri mto :)

Maria Cota disse...

As roupas são autênticos grilhões que nos aprisionam sem dó nem piedade, assim como as palavras de circunstância, os discursos pré-definidos que sustêm a vida em sociedade.
Andamos a vida a toda a tentar fugir destas vestes castradoras. Desejamos regressar à pureza iniciática da nudez primitiva.
Quando os corpos nus se juntam em uníssono perdem a identidade. Tantas formas e feitios, a beleza do individual esvai-se por completo, mas é desta matéria que somos feitos. E, no fundo, todos os corpos são belos, porque únicos.
É na nudez que somos mais nós!

Beijinhos
Mary

Adorei este texto!!

orianah disse...

Olá Rita!
Desculpa aminha ausência, mas não tenho andado muito inspirada e os teus posts parecem-me sempre tão ricos que acho que um simples elogio sabe a pouco.
Os teus textos merecem sempre mais...
Volto em breve...