sexta-feira, 16 de maio de 2008

HÁ DIAS...


Há dias...
Dias assim deviam existir sempre...
Dias assim que não deviam sequer mostrar-nos a luz do sol...
Dias vazios, cheios, ocos, leves, suaves, duros, despidos, vestidos de cores, pintados com rabiscos...simplesmente são dias...
Num dia sinto-me eu...não sei se gosto, passo o dia a olhar-me por dentro, sempre com a infinita discrição que tanto me caracteriza e que eu cada vez menos a suporto. Olho e volto a olhar, vejo o que não quero, o que não queria, e aprecio silenciosamente a frustração do que gostaria de ser, acompanhada da dor de saber que jamais serei um ser diferente.
Num dia não sou eu...tento ocultar o meu eu e ser o meu oposto, o meu outro eu, que não existe e eu sei não existir, mas cobardemente sinto-o como um vento leve que me toca na cara, e agarro-o, e sorrio ao feio, ao que não gosto, ao que não quero, ao que me apetece gritar, expulsar das entranhas. Dura pouco...dura o tempo que eu quiser, que é nenhum.
Num dia sou uma desistente...quero desistir até do que não iniciei, quero dizer não quando ninguém quer ouvir um sim, quero fugir quando ninguém me quer agarrar, quero fechar-me quando não encontro uma porta para me trancar...as fechaduras estão estragadas, com ferrugem de anos e anos de vida aberta, assim como um livro que de tanto tempo ficar naquela página deixa de ser o mesmo, a marca fica, a marca ficará e para sempre...
Num dia inspecciono o passado para mudar o presente, mas esqueço-me que não tenho grande esperança no futuro e quando dou por mim luto a brincar, é uma luta "faz de conta", sei que não quero sequer ganhar...e fico paralisada como desde criança ficava.
Num dia olho ao espelho e vejo anos e anos passados, porque não é preciso sermos velhos, no sentido literal de palavra, para assim nos sentirmos. Tento perceber dentro do meu olhar o que poderia ter feito, ou fazer e até que ponto vou a tempo...é sempre tempo de morrer, mas para viver determinadas coisas há tempos.
Num dia vejo-me reflectida em montras, em espelhos de carros...e vejo uma pessoa feia, uma cara feia...uns olhos eternamente tristes, um sorriso difícil de ser algum dia um na sua plenitude. Sou feia e quero ser outra, e nas outras vejo beleza, mais do isso alegria de viver.
Tantos dias, tantos sentimentos num só dia...tantos estados de espírito...
Fica a certeza que temo ser injusta para com o meu Deus, de ser infantil para com os que me amam...de um dia olhar para o agora, e nem que esse dia seja amanhã e desejar ardentemente apagar com uma borracha todos os meus pensamentos, um a um, tudo o que invade a minha alma e que eu não falo, e que eu não grito...com medo.
Tenho medo.

4 comentários:

Dalaiama disse...

A vida representa um desafio para todos nós, Rita. Um desafio diário, constante. Às vezes suportamos melhor os seus embates, às vezes não. Outras vezes sabemos rir muito com tudo o que de bom nos é diariamente proporcionado, outras vezes não.
Viver exige paciência. Com tudo o que nos rodeia e conosco próprios.
A tua escrita é muito bonita, tens passagens grandememente poéticas! Desejo que do que escreves saibas retirar boas energias! Mereces PAZ!
:-))))))
Beijinho

zé pinho disse...

bem, comentei o primeiro texto que li... não resisto a comentar o segundo: se soubesses o quanto me releio nestas palavras que aqui partilhas... descreves sentimentos que vivo, convulsões diárias que atravesso, tempestades que não compreendo... por vezes sinto-me um bicho em extinção. como diria pessoa: "quanto mais claro vejo em mim, mais escuro é o que vejo! quanto mais compreendo, menos me sinto compreendido..."

acho que estou temos que partilhar um café um destes dias, para trocarmos experiências...

gosto igualmente da maneira como expões as tuas ideias e as concretizas num texto...

beijo
zp | 080520

zé pinho disse...

desculpa o lapso: "acho que estou temos(...)" lol

zé pinho disse...

podes perder 10 minutos para viajar?

http://omeucadernopreto.blogspot.com/2008/05/179viagens-baratas.html

beijo

zp | 080521