sábado, 12 de maio de 2007

IDEIAS...


Passam-se dias de introspecção, mais noites, noites sem dormir gastas de tanto pensar, exaustivas de tanto rebolar na cama que parece não oferecer o conforto que procuramos e procuramos e não encontramos nunca, naquela noite pelo menos não, e as seguintes também não são diferentes.
Passeamo-nos pela rua com um propósito esquecido, ainda que os nossos pés mecanicamente se encaminhem para o lado, para o sítio combinado, previsto. Vamo-nos lembrado do que temos de fazer através das várias interrupções feitas pelas pessoas alheias, alheias à nossa mente, à nossa imaginação que voa desenfreadamente tentando contornar obstáculos típicos de qualquer sonho.
Impossibilidades que se vão tornando em possibilidades cada vez mais reais, é quando esboçamos um sorriso descontextualizado, que por sinal toca nos outros de maneira imperceptível, mas toca, ao ponto de provocar outro e outro, talvez uma gargalhada surja no meio de uma conversa que já fugiu ao tema, que se deslocou no tempo e por isso se tornou em algo de interessante. Porque o convencional é aborrecido até mesmo para os aborrecidos.
Os problemas, na hora do jantar, depois de um telefonema, depois de um pezinho de dança às escondidas, depois de um ou vários cigarros fumados ou desperdiçados, simplificam-se. A impaciência trata de reduzir o máximo ao mínimo e quase que se faz luz.
Mas a caminhada é longa, morosa e cheia de dissabores.
Não sabemos com quem falar, ainda nada está estruturado, não faz sentido, vai desmotivar sem ainda sequer ter motivado. Porque as pessoas se desmotivam com rabiscos e motivam-se ao aperceberem-se que esses rabiscos são tão somente os seus rostos desenhados por alguém com uma perspectiva superior à nossa, ou não, para fazer rabiscos...
Sentamo-nos à frente destas teclas e escrevemos um fio, que não tem meio nem fim, tem apenas um começo mal delineado e passível de ser alterado se entretanto nos lembrarmos de um bom meio ou de um bom fim. Quantas vezes não se escreve um livro, por exemplo, unica e exclusivamente tendo em conta o fim que queremso ler, às vezes são as dez páginas do livro entre as duzentas a que se pode chamar livro. Porque as pessoas gostam de empunhar calhamaços e gostam de ler letras moídas de tão mastigadas e previsíveis de um fim que se anuncia e por vezes nem sequer é lido. O leitor não leu portanto o livro.
Ouvimos músicas e vemos filmes que nos inspirem, na aspiração de ter uma ideia melhor ou parecida mas que aplicada noutra área pode surtir efeito.
Nada...Nada...
Resolvemos parar e normalmente nestas alturas surge alguém com uma ideia que a poderiamos ter posto em prática já há muito, mas não pusemos porque procurámos demasiado, desacreditámos na simpicidade das coisas. Agora voltamos a acreditar, mas não conseguimos chegar até à simplicidade, ao simples.
Desmotivamos e começamos a achar que afinal pertencemos à plateia e com um bocadinho de sorte talvez possamos opinar.
Quando tudo está esquecido e a mágoa de nos sentirmos fracassados se instala, surge a ideia, a tal, com toda a clareza, leveza e luminosidade.
É preciso arranjar forças, convencer outros tantos a tê-las e subir ao palco.
Os aplausos ecoam pelo espaço, nós fazemos a vénia. Uma vénia sincera. O grande momento de sinceridade e de verdadeiro agradecimento.
A adrenalina sobe e não nos deixa dormir. Queremos mais! Queremos mais aplausos! Queremos mais ideias que nos torturem e nos sufoquem e nos façam parecer alienados do que nos rodeia! Queremos ter a ideia de termos uma ideia! É essa a ideia fundamental.

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