quarta-feira, 6 de junho de 2007

SEM TITULO


O que se faz quando depois de escrever um grande texto, uma simples tecla o anula? Voltar a escrever o mesmo em busca das mesmas palavras que nos saíram não sabemos bem como? Escrevê-lo melhor? Como? O nosso melhor texto, as nossas melhores palavras são aquelas que nos surgem no momento, naquele instante, o texto que a estranha tecla em que cliquei sem querer anulou, já faz parte do passado, já não existe em mim, já não faz sentido. Porque tudo na vida tem prazos de validade, e em algumas coisas é ultrapassado numa questão de
minutos.
Agora não saberia escrevê-lo, saíria algo de formal, uma constatação, um texto quase que científico, quando o que eu mais gosto é de divagar.
Mais de metade do que escrevo, para além de não ter sido pensado nem com um minuto de antecedência, não tem qualquer sentido, ou melhor, faz mais sentido para quem lê, do que para mim que escrevo, e a escrita sai-me do coração, talvez daquelas profundezas da alma que não se falam, que não se querem ir buscar para as não tornar ainda mais verdadeiras no nosso pensamento. Porque a verdade às vezes é penosa. Porque a verdade é quase sempre constrangedora. Porque não queremos ouvir a verdade. Talvez seja por isso que todos nós sem excepção viva uma grande mentira, para a qual todos os dias contribuimos de forma positiva até se tornar na verdade que queremos ouvir.
O ser humano tem pouco, ou quase nada de racional, só o facto de termos sido nós a fazermos a distinção do racional/irracional, diz tudo, somos suspeitos à partida. Ninguém gosta de diariamente constatar as limitações do nosso cerebro. Cada vez menos acredito nas pessoas, cada vez menos acredito em mim. Cada vez mais idealizo um mundo que não existe e que sei que não vai existir, talvez seja esta minha consciência que me separa dos ditos loucos, e não sei se ainda bem. Pelo menos os loucos acreditam na sua loucura e não na dos outros e normalmente não puxam os outros para a sua loucura, vivem-na intensamente sozinhos, mas vivem e vivem bem.
Para mim um louco é uma pessoa demasiado sensivel para aceitar viver neste mundo, e na impossibilidade de o mudar, muda-se a si próprio e nesse seu mundo alheia-se do que o sempre magoou e alegra-se com o que a vida tem de bom para lhe oferecer. Sempre quis acreditar que os loucos são mais inteligentes do que os ditos normais, no fundo a loucura é a sanidade levada a um extremo tão grande que nós os ditos normais, os ditos racionais não suportamos e vivemos assim na maior loucura, no epicentro da loucura.
Nós já não somos nós há muito, não sei bem desde quando, acho que varia de pessoa para pessoa, mas de certo cada vez mais cedo deixamos de o ser. Todos nós o sabemos, todos nós o negamos, todos nós nos desculpamos com o facto de a vida ser assim mesmo. Questiono-me será que é?
Às vezes tenho a sensação de estar a ser comandada por outros tantos. Sinto-me fraca por isso. Vou tentar sntir-me forte comandando outros tantos. É um ciclo sem fim que só termina com sobreviventes e nada mais.
E ía eu falar de insónias e do que nos passa pela cabeça quando os olhos teimam em não fechar e ficam obcecados com a escuridão do quarto, onde nada se avista, onde tudo se vê...Mas talvez não tenha sido esse o destino e o clique proveniente das minhas mãos pouco precisas levou-me a falar sobre não sei bem o quê, palavras sem título que o meu coração foi ditando, mas talvez palavras que me apeteciam dizer, escrever.

2 comentários:

Maria Cota disse...

A magia das palavras reside precisamente no seu carácter irrepetível. O que se disse, o que se escreveu há instantes já se veste de outras roupagens no minuto seguinte e por daí em diante!...
Adorei este texto, fez-me reflectir muito sobre a alegada normalidade!
(ainda não a encontrei, mas não perco a esperança! eh eh!)

Beijinhos mtos mtos!
Mary

zé pinho disse...

aqui tens uma grande vantagem em ser old fashion e usar tinta sobre um caderno preto... a liberdade de escrita perpectua-se, está sempre ali: para releres, rasurares, acrescentares... sem 'delete', intemporal...

qto ao texto: não entendo porque as pessoas teimam em excluir e conotar negativamente as pessoas diferentes (que acaba por ser quase um pleonasmo: somos TODOS DIFERENTES)... eu assumo a minha dose -grande- de loucura, muitas vezes uma loucura que não se traduz em gestos, mas em sonhos, ideias, não-ideias, frustrações...
e questiono-me: qual é o mal? qual é o mal? a divergência tem de ser sempre encarada dessa maneira? hmmm

e agora, já aceitas o meu caderno preto?

beijo