quinta-feira, 9 de abril de 2009

NÓS


Trocámos palavras escritas de uma densidade que vai para além do profundo, uma densidade cheia de dor e um anseio absolutamente gigante de sobreviver à tempestade que tinha passado nas nossas vidas.

Uma tempestade feia, que nunca achámos que fosse possível...mas foi com algum alívio que soubemos tão depressa que ambos não olhavamos o céu sozinhos, a queda foi grande, mas as nossas palavras ainda maiores.

Tudo tão depressa...quando dei por mim estava à espera, espera estranha, que eu não queria admitir que pudessem ser cócegas na barriga...pensei que estivesse ainda no passado, que não era longinquo e que não era merecedora daquilo tudo, daquela imensidão de cumplicidade, de sorrisos e às vezes lágrimas...Tudo tão depressa, nada fugaz...não senti em momento algum que ia acabar ali, ficar por ali. Porque de cada vez que falávamos, de cada vez que invertiamos mais ainda o dito normal processo de conhecimento tudo se tornava mais sincero, mais claro e tornava-se evidente a necessidade de próximos passos.

Foram chegando...cada um a seu tempo, no nosso tempo que sempre partilhámos, quase nenhum o tempo que precisávamos.

Um olhar bastou para perceber que a inversão não deixou de fazer cócegas.

Olhámos muito, vimos muito e não vimos nada...eu via o corneto de morango não comprado no café, e não apetecia comê-lo.

Veio um abraço a meu pedido, promessa nossa. Senti a tua fragilidade, a tua delicadeza...tudo o que já tinha sentido antes com o olhar, mas agora de uma forma mais palpável, ouvi o teu coração, ouvia o meu também...

Roubaste-me um beijo.

Não, não foi um roubo qualquer, não, não foi um beijo qualquer...foi mais um toque de lábios que fez esquecer aos dois onde estávamos e até porque estávamos.

Lembro-me da relva, ali sentados com o sol a aquecer as mãos geladas...lembro-me de muita coisa, mas adorei quando entraste e me beijaste com toda a naturalidade do mundo e eu fiquei a olhar para os lados..."Será?"

Podia não parar, e não apetece...mas o resto fica para nós os dois...resta a beleza com que ficámos juntos, resta a beleza daquilo que sabemos que o outro é e não é, resta a beleza que nos ilumina e nos junta...não há coincidências, agora o sei. Tu não és uma coincidência. Esta preserverança não é uma coincidência. Nós não somos uma coincidência. Nem seremos...

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