quarta-feira, 9 de abril de 2008

CONTINUAÇÃO BOOK (2)


Com um movimento brusco, atira-lhe o telefone e percebe-se que do outro lado ainda está alguém a falar…não sabe o que há-de fazer…
-Não posso agir por si, isso eu não posso fazer. Não posso nem quero decidir por si… Estudei psicologia, é verdade, mas isso não me dá o direito ou as capacidades para actuar como Deus, decidindo acerca de questões tão pessoais e íntimas como esta. Aliás, eu utilizei uma péssima comparação porque, no fundo, eu acho que se existisse algum Deus ele não permitiria que o mundo fosse assim.
-Deus… Acha que Deus deve ser responsabilizado pelos nossos erros? Podemos acender um fósforo e acusar Deus de não ter feito chover naquele momento exacto? Tratamo-lo sempre como se de um escravo se tratasse, alguém que existe para satisfazer os nossos desejos a troco de uma oração memorizada ou de uma vela acesa.
Depois de uma ligeira pausa, voltou a baixar o tom de voz.
-Não divaguemos mais. Vá falar com os seus sogros, é o meu conselho, não adie o inadiável, vai ver que se sentirá melhor e pense na Madalena, mais do que nunca precisa dos avós.
A Sara está nervosa, está a decidir com a cabeça quente. Além disso, eu sou a pessoa menos indicada para fazer isso.
-Não estou em condições para conduzir, não vê!
-Se decidir ir, eu própria a levo.
Apesar de resistente, acedeu ao pedido, ela apenas estava a evitar sofrer mais, chorar mais, mas o sofrimento era inevitável, e mais valia sofrê-lo agora. Chegaram. Depois das apresentações reuniram-se na sala, a psicóloga achou por bem ir brincar com a Madalena, quando o pai diz:
-Chegou hoje um envelope endereçado a nós, mas é para ti…não sabemos o que é, mas não nos pareceu correcto sermos nós a abri-lo, de qualquer das formas parece óbvio que ele queria que o abrisses connosco…
Ela concorda, fica hesitante, com muito medo de ler o que quer que fosse vindo dele…

O envelope começa, finalmente, a ser aberto. Lá dentro estava uma folha rasgada, ainda mais maltratada que o envelope, e preenchida com uma série de traços e riscos que só a muito custo podiam ser identificados com letras. Respirando fundo uma última vez…
-Começa assim:


“Sara e Madalena, neste momento apenas me resta pedir perdão. Não fui capaz de vos salvar, pelo que este era o único caminho a seguir.
Espero que não encarem o meu acto como um mero suicídio irreflectido, mas antes como um acto de libertação e expurgação. Espero também que ele não suscite quaisquer sentimentos de culpa pois, a existirem, esses são da inteira responsabilidade do destino. Estamos em 1996 e o destino já é o culpado.”

-Podem-me explicar que data é esta?
-Isto não pode ser para mim! Que brincadeira de mau gosto é esta?
-Continua a ler…só assim vamos perceber…
-Mas não percebem que só o conheci em 2005?
-Mais uma razão para leres…
-O que me estão a esconder?
-Lê, por favor…


18 de Novembro de 2005
O dia estava como há muito não aparecia, o sol apesar de fraco, brilhava no céu, e as nuvens negras que até aqui assombravam a cidade estavam cinzentas, quase que prometiam desaparecer. As crianças naquele dia estavam particularmente irrequietas, devia ser do sol, há tanto escondido, ela própria estava a ser invadida por uma sensação de alegria e vivacidade únicas…o tempo sombrio faz-nos inevitavelmente mais tristes…e aquelas crianças precisavam de felicidade, de alegria, de momentos de sorrisos e gargalhadas soltas, como todas as crianças precisam. Precisam de amor, não esperavam dela uma mãe, que dá ordens, que discute, que às vezes não tem paciência, que chega a casa cansada do trabalho, que a única coisa que anseia é esticar-se na cama e não ouvir um único som, apenas o do silêncio, aquele que não obteve desde o momento em que acordou. Não esperavam isso dela, esperavam precisamente o oposto, esperavam alguém que ali estivesse a tempo inteiro, alguém sem vida própria a não ser aquela, disposta a espalhar cor e alegria em tudo o que faz, em cada criança que toca, alguém que sabe passar a mão na cabeça, perdoar as travessuras e ter paciência infinita para aqueles pequenos diabretes. E era isso que ela era, não era apenas uma mulher, não era somente uma educadora de infância, ela era mãe, irmã, amiga, avó…todas aquelas pessoas imprescindíveis ao nosso crescimento, à nossa maturação, que assistem aos percalços das nossas vidas não de braços cruzados mas com uma voz activa sempre disposta a salvar-nos, a dar-nos a mão, mesmo que sejamos os mais culpados deste mundo. Era ela. Era essa a vida dela, já há muito a...


Continua...
Nota: Eu sei que a imagem nada tem a ver com o texto, mas eu não consigo não colocar imagem, é mais forte do que eu!!!:) Parece que o texto fica despido e feio e então coloco minhas, assim nada tem a ver com nada!! Porque também não gosto de colocar uma imagem que não tenha a ver com o texto havendo! Ora, se não há, e se eu não consigo deixar de colocar foto, ponho uma minha. Fiz-me entender? Creio que estou com alguns pequenos grandes problemas de expressão, o que me assusta solenemente e creio também que estou a justificar o que não interessa a ninguém saber, o que também não me parece normal, mas...

5 comentários:

Anónimo disse...

estou ansiosa pra ler o desenrolar do trama. não demores muito!! beijinhos amiga, Patricia seixo

zé pinho disse...

book 01,00: ok...
book 02,00: ok...
book 02,50: narcisa!!! lol

(mas concordo ctg: um texto sem imagem não é texto, apesar de ele nos permitir construir um cenário mental...)

bjs

Rita Nery disse...

Eu??Tu também colocas fotos tuas!:b
Resposta madura a ninha:)lol

Beijos:)

zé pinho disse...

aquele que vês não sou eu, é o meu irmão... lol

mas convém sermos narcisos, ou tulipas, ou rosas, ou malmequeres, lol ('se eu não gostar de mim, quem gostará?')

;*

Rita Nery disse...

Mimosa:))